CONHECER PARA PRESERVAR: A EDUCAÇÃO
PATRIMONIAL COMO FERRAMENTA PARA PRESERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO CULTURAL
LUIS CARLOS DE ARAUJO SOUSA[1]
Resumo
O presente trabalho tem por objetivo
tratar acerca da importância da educação patrimonial para a sociedade. Discutimos
o conceito de patrimônio cultural e como podemos agir, por intermédio da
educação patrimonial para que este patrimônio possa ser preservado. Traçamos
também um breve levantamento sobre a cidade de Cabaceiras, retratando um
aspecto do patrimônio cultural desta, a partir de encontros no Projovem naquela
cidade. Autores como Teixeira, Oriá,
Lemos, entre outros foram de fundamental importância para que pudéssemos tecer
esta análise. Neste sentido, buscamos contribuir para asa discussões acerca do
patrimônio e da educação patrimonial.
PALAVRAS-CHAVE: patrimônio cultural;
educação patrimonial; preservação
INTRODUÇÃO
Trabalhar
a questão da educação patrimonial nos dias de hoje é muito importante para a
nossa sociedade, tendo em vista que vivemos em uma época onde o efêmero, o
passageiro fala muito mais forte do que as coisas conhecidas popularmente como
“velhas”.
Vulgarmente,
no senso comum, quando se fala em patrimônio histórico e cultural, vem a mente
da maioria das pessoas os edifícios velhos e “feios” que se tornam cada vez
mais obsoletos, se comparados as novas estruturas arquitetônicas que exibem
cada vez mais luxo e glamour.
Conforme
nos fala Teixeira “diante do processo de modernização das cidades, percebe-se a
constante desvalorização e desconhecimento com relação ao patrimônio cultural”
(TEIXEIRA, 2008). Esta afirmação da supracitada autora vem confirmar o que
dizíamos anteriormente, e reforça ainda mais a necessidade de uma educação
patrimonial como um meio de conscientizar as pessoas quanto ao patrimônio que a
elas pertencem.
Hoje
no Brasil, o órgão responsável por tratar das questões referentes à preservação
do patrimônio cultural é o IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional), órgão este que teve sua origem no SPHAN (Serviço do Patrimonio
Histórico e Artístico Nacional), criado como secretaria na gestão e Vargas.
O
SPHAN foi criado com o intuito de preservar o chamado patrimônio histórico e
artístico nacional, discussão que a muito já vinha sendo travada no país, sendo
que os tais patrimônios estavam voltados mais para as questões dos edifícios,
uma vez que
...priorizou-se,
assim, o patrimônio edificado e arquitetônico – a chamada pedra e cal – em
detrimento de outros bens culturais significativos, mas que por não serem representativos
de uma determinada época ou ligados a um fato histórico notável... deixaram de
ser preservados e foram relegados ao esquecimento... (ORIÀ, 2003, p 129)
Como podemos notar a
partir desta citação, a atuação do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional, servia como um meio para legitimar a ação de determinados grupos
tidos como importantes para a sociedade, ou seja, a elite da época, sem contar
que o governo se utilizava muito deste órgão para efetivar um sentimento de
nacionalismo no povo brasileiro, uma vez que ligava estes bens preservados a
fatos importantes para a nação, pelo menos do ponto de vista da elite.
A partir de 1969 o SPHAN
passou a ser chamado de IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional – como ainda hoje é conhecido, cujo trabalho passou de preservar o
patrimônio histórico e artístico para o
patrimônio cultural, termo este mais abrangente e menos excludente que o outro.
A partir destas discussões, o presente
trabalho objetiva-se por trazer um breve estudo sobre patrimônio cultural e
educação patrimonial, como esta ajuda a preservar aquele. Pois acreditamos que
a educação é a melhor maneira de contribuir com os seres humanos no sentido de
sensibilizar, e percebemos a escola, como diz Oriá (2003), com um papel
fundamental neste processo, a fim de evitar que nosso patrimônio seja
destruído.
Gostaríamos também de
propor uma breve análise do município de Cabaceiras – PB, e como que a educação
patrimonial pode ajudar a salvaguardar o patrimônio cultural desta cidade,
tendo em vista que a mesma apresenta-se com um rico e vasto patrimônio
cultural, conhecido, inclusive, nacionalmente. Mas em relação a esta cidade,
estaremos pensando apenas, a princípio, no seu centro histórico, uma vez que o
espaço deste artigo não é suficiente para dar conta da discussão que abrangesse
todo o patrimônio cultural deste município.
Estaremos traçando esta
relação entre Cabaceiras e educação patrimonial a partir de uma experiência que
tivemos enquanto orientador social no Projovem Adolescente que funciona nesta
cidade.
MAS AFINAL, O QUE É MESMO PATRIMÔNIO
CULTURAL E EDUCAÇÃO PATRIMONIAL?
A
palavra patrimônio deriva do latim – pater
– que significa pai, mas também é formada por monium, “que, segundo o direito Romano, relaciona-se ao poder
masculino, ao poder pátrio, à herança paterna”(SILY, 2009 p.271). O que nos
leva pensar patrimônio como uma herança de um pai, o que os filhos herdam dos
pais quando estes morrem.
O
dicionário Aurélio define patrimônio como: 1. Herança paterna, 2. Bens de
família, 3. Os bens, materiais ou não, de uma pessoa ou empresa. O que nos
ajuda a perceber realmente que patrimônio é algo herdado por alguém, no caso em
específico, o patrimônio cultural, são bens que a sociedade de modo geral herda
de seus antepassados, bens estes que são a fonte da história e da identidade
das pessoas.
E
é interessante como que o termo patrimônio se ampliou ao longo do tempo, no que
concerne a questão de preservação claro, uma vez que, por muito tempo o tipo de
patrimônio considerado importante e que merecia ser preservado era os chamados
de cal e pedra, ou seja edificações, mas não qualquer tipo, só as que tivessem
relação com os grandes heróis, e que servissem para legitimar uma identidade
nacional.
Por
muito tempo o termo utilizado quanto ao patrimônio que deveria ser
salvaguardado era patrimônio histórico e artístico, mas tendo em vista que este
termo “restringia-se aos bens materiais, especialmente os bens imóveis,
dissociados de seu ambiente original” (ORIÁ, 2009, p.132 ), de uma determinada
sociedade, foi aos poucos sendo substituído por patrimônio cultural.
O pioneiro nas discussões sobre patrimônio cultural
foi o professor Hugues de Varine-Boham, ele nos fez encarar esta problemática
de forma mais abrangente, segundo comenta Lemos (2004).
Varine-Boham
sugeria que o patrimônio cultural fosse dividido em três grandes categorias de
elementos, segundo Lemos estas categorias seriam:
Primeiramente, os
elementos pertencentes à natureza... exemplo, os rios... O segundo grupo
refere-se ao conhecimento, às técnicas, ao saber fazer e ao saber fazer. São os
elementos não tangíveis do Patrimônio Cultural... O terceiro grupo de elementos
é o mais importante de todos porque reúne os chamados bens culturais que
englobam toda sorte de coisas, objetos, artefatos e construções obtidas a
partir do meio e do saber fazer. (LEMOS, 2004, PP.9,10.)
A partir desta divisão feita Por
Boham, compreendemos que o patrimônio cultural é algo bastante amplo, que
englobas bens tanto de ordem natural, quanto de ordem artística e mais
cientifica, enfim, diversos conhecimentos, o que nos ajuda a melhor trabalhar
com este conceito na atualidade.
No
Brasil o termo patrimônio cultural foi abarcado pela constituição de 1988 a
qual define o mesmo como:
Constituem
patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial,
tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade,
à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira [. .
.]. (Brasil, 2000, p. 145, apud Sousa)
Esta
citação mostra como que o governo brasileiro entendeu bem, pelo menos na
teoria, a questão do patrimônio cultural, pois sendo o Brasil um país com
tantos patrimônios, que muitas vezes estavam sumindo, merece toda uma atenção
especial.
Outro
aspecto interessante é o fato que toca no que diz respeito a relação entre
patrimônio e identidade, uma vez que para ser patrimônio cultural o bem a ser
preservado necessita resguardar algo que tenha relação com o povo brasileiro em
suas origens.
Até
o presente momento temos discutido a questão do patrimônio cultural a partir de
definição e conceitos, mas falta-nos pensar como que este pode ser preservado,
qual a melhor maneira para se preservar uma determinada coisa?
A
resposta para esta pergunta, do parágrafo anterior, em nossa opinião, é a
educação. A educação é um meio para que consigamos conscientizar as pessoas
acerca da situação em que vivem.
Ora,
para preservar o patrimônio cultural a melhor maneira é a educação patrimonial.
Para entendermos o que é educação patrimonial vamos recorrer a Oriá, que a
define como:
...a educação voltada para questões
referentes ao patrimônio cultural, que compreende desde a inclusão, nos currículos
escolares de todos os níveis de ensino... até a realização de cursos de
aperfeiçoamento para educadores e a comunidade em geral... (ORIÁ, opus cit. P.
141)
Sobre
educação patrimonial, Teixeira nos diz:
A proposta metodológica da Educação Patrimonial em termos
conceituais foi introduzida no Brasil a partir do 1º Seminário
realizado
em Petrópolis no Rio de Janeiro no ano de 1983, balizado por um
trabalho
educacional desenvolvido na Inglaterra. (TEIXEIRA, 2008)
É
interessante, a partir destas duas citações, traçarmos a importância que a
educação patrimonial apresenta enquanto meio para conservação do nosso
patrimônio cultural.
Conforme fala Oriá, a educação patrimonial
busca trabalhar a educação patrimonial a partir da inserção desta no currículo
escolar, o que realmente pode ser uma solução para que possamos diminuir com a
degradação de nosso patrimônio, e através de cursos para educadores e para a
comunidade, vemos também uma ótima oportunidade de conscientização.
Segundo
podemos ver neste trecho de Teixeira a proposta de trabalhar com a metodologia
da educação patrimonial no Brasil ainda é muito recente, tendo em vista que
nosso país já possui mais quinhentos anos.
Fazer
com que alunos, educadores, ou moradores de bairros ruas, etc., percebam o seu
local como um patrimônio é de suma importância, só assim poderão preservar,
tendo em vista que o ser humano é fadado a valorizar aquilo que lhe pertence de
fato.
No
que tange a educação patrimonial no âmbito escolar, Teixeira nos alerta para
uma coisa muito importante
Assim, com relação à escola, podemos destacar
que ao longo dos tempos sua estrutura
vem sendo depredada, desvalorizada dia após dia pelos seus próprios
beneficiários... Acreditamos que, para a efetivação da Educação Patrimonial no
contexto escolar, obrigatoriamente precisamos partir da realidade dos
estudantes... (TEIXEIRA, 2008)
Concordamos
plenamente com Teixeira nesta sua observação, uma vez que temos na escola um
local excelente para trabalharmos a questão da educação patrimonial, e como se
referiu a autora devemos realmente partir da realidade do estudante, só assim
este estudo e aprendizado torna-se mais prazeroso e com sentido.
Perceber
a escola como uma propriedade sua, identificar sua rua, bairro, cidade, etc.
enquanto um patrimônio que precisa e deve ser preservado, é fundamental para o
ser humano, isto torna-nos cidadãos de bem, pessoas que podem e devem mudar a
forma de ver, e perceber o patrimônio.
O MUNICIPIO DE CABACEIRAS – PB
Cabaceiras
é uma cidade localizada na microrregião do cariri oriental da Paraíba, no chamado
cariris velhos, com uma população de pouco mais de cinco mil habitantes, distante
cerca de184 km da capital do estado. Foi fundada por volta do ano de 1700 por
Pascácio de Oliveira Ledo, sendo emancipada politicamente em 4 de junho de
1835, ocupando na escala de emancipação política o sexto lugar entre os demais
municípios da Paraíba.
Cabaceiras
é um lugar riquíssimo no que se refere a patrimônio cultural. Tendo em vista a
definição que trabalhamos aqui neste trabalho, poderíamos elencar muitas coisas,
mas nosso espaço aqui não permite. Neste caso gostaríamos de expor apenas em um
de nossos patrimônios, o centro histórico
Ora,
tendo em vista que o município conta com casarios de estilos coloniais,
localizados no centro histórico, que datam de mais de trezentos anos, cabe-nos
uma ação de preservação, tendo em vista que os mesmos guardam muito sobre nossa
história.
Dentro
do município de cabaceiras existe um decreto lei sancionado no ano 2000 pelo
então prefeito do município, Arnaldo Junior, que proíbe qualquer reforma, ou
modificação nas fachadas das tais casas, mas infelizmente, este decreto acaba
ficando apenas no papel, pois muitas destas casas passaram por transformações
completas.
Pensar
como salvaguardar este patrimônio do município torna-se mister para nós que
estudamos e para quem gosta de história, eu diria que é muito importante para a
cidade de um modo geral, o problema é que a população ainda não se atentou para
isto.
Ai
é onde entra o papel da educação patrimonial, como uma ferramenta de
preservação, como já falamos anteriormente.
A partir das discussões que traçamos na sala
de aula, nas aulas de Estágio I, pudemos notar como se torna importante
trabalhar com educação patrimonial. A partir daí, decidimos trabalhar com os
alunos do Projovem Adolescente do município de Cabaceiras, um pouco de nossa
história. Infelizmente o nosso espaço de discussão dentro do programa foi
pouco, onde pude constatar que poucos jovens sabiam algo sobre a história do
município.
Nós
trabalhamos a história do município através de cordéis locais, fazendo um
estudo teórico por dois encontros, até que depois fomos para as ruas da cidade,
na qual pudemos explicar para os jovens um pouco mais sobre a história de nosso
município, tomando como base as fachadas antigas das casas.
É
muito interessante ver como que estes jovens não tinham nenhuma referencia
sobre educação patrimonial, eles não entendiam o porquê de se preservar aquelas
fachadas velhas, até por que muitos deles moravam naquelas casas, mas a partir
destas breves discussões vimos que alguns voltaram para casa pensando no
assunto, enquanto outros, se quer prestaram atenção.
Mas enfim não os culpo por isso, o
que falta é investimento por parte das autoridades constituídas no que concerne
a este assunto, como diria Sousa “A tomada
de consciência da necessidade de preservação do patrimônio histórico é um fato
ainda novo no Brasil” (SOUSA) e Teixeira diz que “...promover a preservação e
valorização desses bens culturais, exige grande investimento na área da Educação”
(TEIXEIRA, 2008) algo que ainda não é detectado em nosso país, muito menos em
um município tão pequeno como Cabaceiras, apesar de existir uma preocupação sim
por parte das autoridades em preservar a história da cidade, mas ainda falta
muita coisa.
Talvez uma proposta de educação
patrimonial para a população cabaceirense pudesse ajudar neste sentido, mas
nosso espaço se restringe até aqui, daqui pra frente não podemos fazer muita
coisa sem o aval das autoridades, eles quem devem investir na educação.
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[1]
Graduando do sexto período do curso de Licenciatura Plena em História pela
Universidade Estadual da Paraíba